
A maior estação de tratamento de água do mundo, a ETA Guandu, no Rio de Janeiro, que abastece toda a região metropolitana do Estado, pode reduzir substancialmente seus gastos com investimentos em restauração florestal. Um estudo recente indica que o plantio de florestas na região pode resultar numa economia de R$ 156 milhões em 30 anos.
O estudo mostra que se produtores rurais, empresas, o estado e a Cedae incentivarem a preservação das áreas naturais remanescentes e o plantio de florestas em áreas altamente degradadas – o que representa 1,4% da bacia –, a quantidade de terra, sujeira e sedimentos que chega nos rios reduziria em 33%. Com menor quantidade de “poluentes”, a ETA Guandu deixaria de usar 4 milhões de toneladas de produtos químicos e 260 mil MWh em energia, gerando o retorno do investimento de 13%, compatível com os resultados financeiros de obras no setor.
“O estudo mostra que a restauração florestal torna o sistema de abastecimento do Rio mais resiliente e a economia mais eficiente”, diz Rafael Feltran-Barbieri, economista do WRI Brasil e um dos autores do estudo. “Como o Rio é bastante dependente de uma única estação de tratamento, mesmo que seja a maior do mundo, a floresta desempenha um papel ainda mais importante.”
Segundo Hendrik Mansur, especialista em conservação da TNC e também um autor do estudo, é preciso avançar na restauração florestal de áreas prioritárias na Região Hidrográfica do Guandu com o objetivo de aumentar os serviços ecossistêmicos e a segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A ampliação dos arranjos institucionais já instalados com os mecanismos de governança e os instrumentos financeiros serão fundamentais para o ganho de escala na restauração”, afirma.
Uma floresta restaurada precisa de tempo para “amadurecer” antes de atingir seu pleno potencial. Assim, o estudo também aponta para a importância de conservar a floresta existente, que já oferece diversos serviços ambientais, como a retenção dos sedimentos. “Conservar as florestas remanescentes e recuperar aquelas que foram derrubadas ao longo de anos são investimentos possíveis. Gestores dos serviços hídricos de todo o país devem considerar essa alternativa, benéfica para a sociedade e para o planeta”, afirma a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
O estudo “Infraestrutura Natural para Água no Sistema Guandu, no Rio de Janeiro” foi produzido pelo WRI Brasil, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e The Nature Conservancy (TNC), e contou com apoio de Fundação FEMSA, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto BioAtlântica (IBio) e Natural Capital Coalition.
Infraestrutura Natural
O investimento em infraestrutura cinza – obras de transposição, reservatórios e canais – é a principal alternativa adotada pelo poder público no Brasil para enfrentar crises hídricas. O estudo mostra que o investimento em infraestrutura verde ou natural também deve ser considerado.
Infraestrutura Natural são ecossistemas manejados, restaurados ou conservados com capacidade de fornecer bens e serviços essenciais à produção material, saúde e bem-estar humano. Melhorar a qualidade da água está entre os mais preciosos serviços que a restauração da vegetação nativa pode oferecer, dado o papel de filtragem que as florestas exercem na retenção de sedimentos e assoreamento dos cursos d’água.