
As autoridades brasileiras completaram uma rara operação terrestre para proteger um povo indígena isolado de fazendeiros violentos em uma região da Amazônia com a maior taxa de desmatamento ilegal do país. Entre os dias 7 e 14 de dezembro, agentes do governo foram enviados para retirar os fazendeiros ilegais da terra dos Kawahiva, conhecida como a Terra Indígena Rio Pardo, no Mato Grosso.
O território dos Kawahiva fica próximo da cidade de Colniza, uma das áreas mais violentas do Brasil. 90% da renda da cidade é proveniente da extração ilegal de madeira.
Os Kawahiva são caçadores-coletores nômades, e vivem fugindo das invasões de seu lar florestal. Eles evitam contato com a sociedade dominante devido aos constantes ataques que sofrem. A proteção de suas terras é a única maneira de garantir que seu direito de escolher não fazer contato com outras pessoas seja respeitado.
Eles se tornaram conhecidos internacionalmente em outubro de 2015, quando a Survival International divulgou imagens de um encontro raro com membros do povo, filmadas pela FUNAI, para provar que os Kawahiva moram lá e para gerar apoio para a proteção da terra. Estas imagens continuam sendo algumas das mais claras já vistas de indígenas isolados.
Demarcação de terra dos Kawahiva
O processo de demarcação de suas terras começou há alguns anos, quando a existência dos Kawahiva foi confirmada e o governo começou a mapear seu território para seu uso exclusivo, conforme exigido pelo direito nacional e internacional. No entanto, isso logo foi paralisado, deixando os Kawahiva expostos ao genocídio e à extinção.
“A defesa do território é fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas isolados e de recente contato”, comenta Geovânio Pantoja Katukina, servidor da Funai que atua na Frente de Proteção Etnoambiental Madeirinha-Juruena.
Nos anos seguintes, vereadores de Colniza têm pressionado o Ministro da Justiça para reduzir drasticamente o tamanho da terra indígena do Rio Pardo, para permitir que mais madeireiros e fazendeiros possam entrar. No entanto, dois anos após o decreto ser assinado, agora as autoridades removeram os invasores.
“É importante que as pessoas saibam que não somos os únicos humanos nesta Terra – os Kawahiva e outros povos indígenas isolados estão lá, nas suas florestas. Nós devemos proteger suas florestas. É a única maneira de eles sobreviverem”, explica Jair Candor, chefe de equipe da FUNAI.
Enfrentamentos políticos
Recentemente, o Presidente-eleito Jair Bolsonaro afirmou que não irá mais proteger territórios indígenas. Ativistas temem que, a menos que a terra dos Kawahiva seja protegida completamente antes de que ele tome posse, o processo não será concluído.