
Na Teoria do Caos há um fenômeno, popularmente conhecido como Efeito Borboleta¹, que diz que pequenas alterações nas condições iniciais podem originar o caos. Talvez não seja necessária tanta ciência para ver a aplicação desta teoria em nossos dias. Um papel, uma embalagem, uma garrafa que você jogar a princípio será só lixo, mas daqui uns dias será a enchente, a poluição de rios e o declínio da vida oceânica.
Lançada esta semana pela Organização das Nações Unidas (ONU), a campanha Mares Limpos tem como objetivo convencer pessoas e empresas a reduzirem o consumo de plástico e assim diminuir o volume de resíduo gerado, impactando da menor forma o meio ambiente e as nossas águas.
“O descarte incorreto de lixo nas praias e rios é uma forma infantil de lidar com a situação. Você esconde o lixo e acha que sumiu do planeta”, comenta Marcelo Szpilman, biólogo marinho e diretor-presidente do AquaRio.
O lixo descartado nas praias e rios viaja junto à corrente e pode chegar a lugares mais distantes do que nós mesmos podemos planejar. Segundo um estudo da Universidade da Tasmânia, a Ilha Henderson recebe diariamente mais de três mil pedaços de plástico, vindos de toda parte do mundo. Mas engana-se quem pensa que o movimento humano por lá é grande. O povoado mais próximo do arquipélago ao qual ela pertence está a cinco mil quilômetros e ela é visitada apenas por pesquisadores em períodos de cinco a dez anos.
Aqui no Brasil não é diferente. Atol das Rocas, localizada no meio do oceâno, a 270 quilômetros de Natal (RN) já tem sua fauna afetada pela poluição. “Mesmo sem ter população, o lixo é um problema que só não se agrava no Atol das Rocas porque a gente não permite. Chega muito lixo de Fernando de Noronha, inclusive copinhos plásticos das operadoras de mergulho”, conta a pesquisadora e ambientalista Maurizélia de Brito, que diz retirar resíduos até mesmo do ninho das aves.
A campanha terá duração de cinco anos e espera contar com parcerias de governantes e empresas. “Não adianta a gente trabalhar só na consequência. Tem que trabalhar na causa. É claro que não são as empresas que jogam o lixo (nos mares), são os usuários, mas a gente precisa ter uma parceria em todo o ciclo da produção. Se a gente só limpar as praias, amanhã teremos elas sujas de novo”, finaliza Denise Hamú, representante da ONU Meio Ambiente no Brasil.
Foto: Martine Perret/Onu Meio Ambiente